A Comissão Europeia publicou o Relatório Anual de 2025 sobre o Mercado Único e a Competitividade, analisando os pontos fortes e fracos da economia da UE.

O relatório dá conta da evolução de 22 indicadores-chave de desempenho, como integração no Mercado Único, Investigação e Desenvolvimento (R&D), despesas e preços da eletricidade. Estes são cruciais para avaliar a competitividade da UE, identificando áreas que exigem atenção especial, como a conclusão do Mercado Único, o colmatar da lacuna de inovação, a descarbonização da indústria e a redução de dependências.
As principais conclusões são as seguintes:
• A competitividade da economia da UE enfrenta uma pressão crescente de vários ângulos, incluindo custos de energia altos e excesso de capacidade em países terceiros.
• Barreiras persistentes no Mercado Único impedem-no de atingir o seu potencial máximo. A carga regulatória é vista como um obstáculo por dois terços das empresas. São também obstáculos os atrasos de pagamento e o acesso a financiamento.
• A Europa apresenta gastos estáveis em investimentos, forte atividade de pesquisa e um amplo conjunto de talentos. No entanto, as empresas lutam para crescer, as despesas com a Investigação e Desenvolvimento permanecem abaixo dos pares e a digitalização progride muito lentamente.
• A Europa tem uma base industrial forte, mas os preços altos da energia pesam na sua competitividade. A descarbonização da indústria e dos sistemas de energia, bem como a circularidade, estão a avançar, mas devem acelerar.
• A UE mantém a sua posição como exportadora global número um de serviços e exportadora número dois de bens. Ainda assim, dependências estratégicas e excessos de capacidade em países terceiros merecem monitorização cuidadosa.
À luz da atividade das empresas associadas da ANIMEE, destacamos as notas sobre:
• Normalização
A marcação CE identifica que os produtos estão em conformidade com a legislação de produtos harmonizada da UE, permitindo que sejam vendidos em toda a Europa. As normas técnicas harmonizadas reduzem as barreiras ao comércio, garantem a interoperabilidade dos produtos e aumentam a competitividade das empresas europeias. Por vezes, o quadro de normalização carece de velocidade e agilidade, em particular para novas cadeias de valor para as transições verde e digital. É de extrema importância incentivar a entrega rápida de normas e a participação da indústria da UE no trabalho sobre solicitações de normas em áreas-chave para a competitividade da UE. Essas áreas prioritárias são definidas anualmente, através do Programa de Trabalho Anual da União para a Normalização Europeia. A Comissão está atualmente a avaliar a estrutura legal sobre a normalização europeia para determinar novas ações. (pp8-9)
• Sustentabilidade
A falta de informações abrangentes e acessíveis sobre o ciclo de vida do produto dificulta a transparência e os esforços de sustentabilidade. O Passaporte Digital do Produto (DPP), estabelecido sob o Regulamento Conceção Ecológica de Produtos Sustentáveis , em vigor desde julho de 2024, fornecerá, uma vez criado e operacional, informações abrangentes sobre o ciclo de vida de um produto, incluindo documentação de conformidade, instruções de segurança e orientação sobre a eliminação de produtos. (p.10)
• PME
Quatro desafios principais estão a atrasar as PME: obstáculos regulamentares ou encargos administrativos, atrasos nos pagamentos, acesso ao financiamento e competências. (p.10)
• Tecnologia
Embora a base tecnológica da UE seja mais diversificada do que a de outras grandes economias, é desproporcionalmente mais especializada em tecnologias menos complexas do que as suas congéneres. Isto sugere uma certa armadilha de tecnologia média que dificulta a capacidade da UE de entrar e desenvolver novos sectores intensivos em tecnologia, minando o potencial de crescimento futuro.
No Painel de Avaliação de I&D Industrial de 2024, as empresas da UE lideravam no sector automóvel (61% de quota no total, EUA 18%, China 5%, Japão 15%), enquanto noutros sectores intensivos em tecnologia os investidores da UE ficaram para trás: sector da saúde (UE 14% versus EUA 51%, Japão 4%); Hardware TIC (UE 8% versus EUA 55%, China 15%); Software TIC (UE 4% versus EUA 82%, China 10%, Japão 4%).
A produção de inovação da UE melhorou ligeiramente (8%) nos últimos dez anos, mas continua a ser inferior à dos EUA, Reino Unido e Japão, tendo a China alcançado rapidamente um aumento de 28% no mesmo período.
As empresas da UE enfrentam ainda inúmeros desafios quando procuram comercializar a sua inovação protegida por invenções patenteadas, tais como a falta de capital privado.
A intensidade digital das PME e a adoção das tecnologias digitais pelas empresas ainda não estão a aumentar suficientemente depressa.
• Digitalização
A UE está a ficar para trás dos seus concorrentes no domínios digital. A UE continua numa posição competitiva em áreas como a indústria transformadora avançada e os equipamentos de redes móveis, mas não conseguiu acompanhar o ritmo geral dos concorrentes globais nos segmentos de hardware e software do setor das tecnologias de informação e comunicação (TIC). A base de conhecimento da UE para o desenvolvimento de tecnologias digitais está, em grande parte, localizada fora da União, sendo que as citações de patentes extra-UE representam cerca de 70% dos pedidos de patentes digitais.
A intensidade digital das PME e a adopção das tecnologias digitais pelas empresas também não está a aumentar suficientemente depressa.
• Comércio
A análise da vulnerabilidade externa da economia da UE revela que a UE está mais exposta às vulnerabilidades do comércio externo do que a China, mas menos exposta do que os EUA.
As empresas da UE reportaram dificuldades no acesso a determinadas mercadorias, sendo o acesso a matérias-primas como o aço, o cobre, os combustíveis fósseis, o lítio, etc., referido como um dos principais obstáculos por 37% das empresas. Outros obstáculos importantes incluem o acesso a semicondutores e microchips (23%), e outros componentes, produtos semiacabados e equipamentos (27%) (p. 24)
• Investimentos
Existem grandes necessidades de investimento para que as empresas dominem as transições verde e digital. Ambas as transições exigem investimentos na geração, transmissão e armazenamento de eletricidade, eletrificação de processos industriais, eficiência energética, capacidade de computação, automação e muitas outras áreas. Exigem também investimentos na indústria de semicondutores e na extração, processamento e reciclagem de muitas matérias-primas essenciais.
• Contratação pública
As compras públicas podem servir como uma ferramenta estratégica para canalizar o investimento público para a transição verde e a resiliência da economia da UE, mas a sua implementação pode ser desafiante.
• Electricidade
Os preços da eletricidade na UE caíram em relação ao pico, mas ainda são quase duas vezes superiores aos níveis históricos. Para além disso, as empresas da UE enfrentam preços da eletricidade que são, em média, 3 vezes superiores e preços do gás natural 4 a 5 vezes superiores aos dos EUA. Existem também diferenças substanciais de preços dentro da UE. 33% das empresas afirmam que os preços voláteis e muito elevados da energia são os principais fatores que afetam negativamente a atratividade da UE para novos negócios. (pág. 20)
Os atuais níveis de preços também dificultam a eletrificação da economia da UE. Isto pode ser explicado em parte por uma diferença de preço persistentemente pequena entre o gás e a eletricidade, o que não está a proporcionar incentivos económicos suficientes para mudar, apesar da maior eficiência energética dos sistemas elétricos. A questão do preço desencorajou a transição por parte da indústria e também das famílias. No entanto, prevê-se que a quota de eletricidade aumente sucessivamente, dadas as regras de emissão cada vez mais rigorosas, os preços mais elevados do carbono e as regras de tributação da energia revistas.
A rápida implementação do Net-Zero Industry Act (NZIA) ajudará a UE a desenvolver uma forte capacidade de produção nacional para as chamadas tecnologias limpas, crucial para satisfazer as necessidades da sociedade por energia mais barata e limpa. (p. 21)
Em conclusão, o Relatório Anual de 2025 sobre o Mercado Único e a Competitividade fornece o contexto analítico para a Bússola para a Competitividade, que traça um rumo para que a Europa se torne o local onde as tecnologias, os serviços e os produtos limpos do futuro são inventados, fabricados e colocados no mercado, e para que seja simultaneamente o primeiro continente a alcançar a neutralidade climática. O relatório visa ainda fornecer um diagnóstico para sustentar o Clean Industrial Deal e o Plano de Ação sobre Energia Acessível, que delinearão a estratégia da UE para impulsionar a competitividade e serão publicados no final de fevereiro.
Na próxima edição da Newsletter ANIMEE encontrará informação subsequente, nomeadamente sobre a Bússola para a Competitividade.
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